O discurso papal desta quinta-feira, em Fátima, não escondeu a oposição do Vaticano às leis aprovadas em Portugal e atraiu críticas de vários sectores.
No discurso aos membros das organizações da Pastoral Social, Bento XVI deixou para o fim a mensagem política que quis trazer a Portugal de apoio aos movimentos pela recriminalização do aborto, exprimindo o seu "apreço a todas aquelas iniciativas sociais e pastorais que procuram lutar contra os mecanismos sócio-económicos e culturais que levam ao aborto e que têm em vista a defesa da vida".
Em seguida veio o apoio às iniciativas em defesa da concepção de família "fundada sobre o matrimónio indissolúvel de um homem com uma mulher", que no entender de Bento XVI, "ajudam a responder a alguns dos mais insidiosos e perigosos desafios que hoje se colocam ao bem comum".
As palavras de Bento XVI contra a despenalização da IVG motivaram o comentário da ministra da Saúde, presente neste encontro onde as frases do Papa contra o aborto, o divórcio e o casamento homossexual foram aplaudidas por cerca de 9 mil pessoas. "Nós respeitamos a posição da Igreja, mas não é a nossa", afirmou Ana Jorge, acrescentando que "a defesa da vida, enquanto profissionais de saúde, todos nós fazemos e defendemos. No entanto, temos de considerar que há um direito à escolha". Já sobre a questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo, a ministra disse apenas que "um casamento civil não é um casamento religioso", recusando-se a fazer mais comentários.
A União das Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) lamentou "que o papa continue no caminho de ostracização dos direitos das mulheres e das pessoas com orientação sexual diferente e que inverta os seus próprios objectivos de paz e harmonia". Maria José Magalhães, presidente da organização, defendeu que "impedir o direito ao aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo é um obstáculo ao desenvolvimento, à harmonia e à felicidade".
Esta quarta-feira, a UMAR viu ser apreendidos pela ASAE todos os exemplares de um jornal distribuído na baixa de Lisboa na véspera, contendo "notícias fictícias de um mundo considerado ideal pela organização", com títulos como "Mulheres vão poder ser padres", "Perdão da dívida externa do Haiti" ou "Fim das propinas anunciado para 2011".
O nome do jornal - "i diário" - e o facto de "tomar várias posições contrarias à igreja católica em geral e de Sua Santidade o Papa Bento XVI" foram os argumentos usados pela empresa Sojormédia Capital SA – proprietária do jornal "i" – para avançar com uma queixa-crime por imitação e uso ilegal de marca que levou à apreensão dos exemplares que não chegaram a ser distribuídos no Porto, como previsto.
A UMAR diz-se "chocada e surpresa" pela queixa-crime, uma vez que o objectivo era "criar uma possibilidade de pensar sobre a estrutura e a hierarquia da igreja e vários outros conteúdos", afirmou Salomé Coelho à agência Lusa.
"O processo encontra-se em andamento, mas a associação está já a alterar o título do documento para “ideário” (trocadilho subentendido no anterior título), a fim de disseminar, massivamente, o documento e as suas mensagens", diz ainda a UMAR em comunicado, que agenda para o dia 20 de Maio a Tertúlia “Mundos ideiais censurados: Feminismos e Religiões”, em local a confirmar.
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