Ana Cláudia Barros
Um cartaz, com a insinuação de duas mulheres se beijando, provocou polêmica em uma faculdade particular em Muriaé, na Zona da Mata mineira. A peça seria usada para divulgar a 7ª Semana Acadêmica do Serviço Social, realizada pela FAMINAS, mas foi vetada pela instituição, conforme o presidente do Movimento Gay de Minas, Marcos Trajano, que acompanha o caso.
De acordo com ele, a coordenadora do curso de Serviço Social, responsável pela organização do evento, não aceitou a determinação da direção da faculdade, que impôs a alteração do cartaz. A docente, segundo Trajano, alegou que a ordem feria o código de ética da profissão, e decidiu cancelar o encontro, cujo objetivo seria discutir movimentos sociais e excluídos. Homofobia figurava entre os temas da pauta. A professora foi demitida.
- Ela disse que ou o cartaz iria daquele jeito ou a semana seria cancelada. Falou, ainda, que iria comunicar aos alunos o que estava acontecendo. E foi o que ela fez. No dia seguinte, foi demitida - conta o presidente do MGM.
Em nota de esclarecimento, divulgada hoje, a assessoria de comunicação da FAMINAS se limitou a afirmar que as atividades culturais, de pesquisa e de extensão fomentadas pela instituição "se pautam no respeito à diversidade, na busca constante da diminuição das distâncias sociais." Informou, ainda, que, diante do cancelamento, o evento será remarcado para o segundo semestre.
Questionada sobre o caso e os motivos que levaram à demissão da coordenadora do curso de Serviço Social, a assessoria comunicou que somente o procurador da instituição, Eduardo Goulart, estava habilitado para falar sobre as questões referentes à FAMINAS, e que ele estava viajando.
Alvo da polêmica
O cartaz recusado era, na verdade, a reprodução da capa da agenda 2010 do Conselho Federal de Serviço Social, em que aparecem, ainda, a imagem de um negro, um índio, um trabalhador sem-terra, um cadeirante. Para o presidente do MGM, o caso é uma demonstração explícita de demagogia.
- A faculdade se propõe a discutir a homossexualidade numa mesa, mas não se propõe a combater a homofobia de fato. É preconceituosa, e mais do que isso, como todo bom preconceito hoje, ainda é covarde, porque não assume de fato a posição que teve nos bastidores em relação a esse evento. Por outro lado, temos um ponto positivo, que foi a posição da professora, que se mostrou extremamente ética e, mais ainda, a posição dos alunos, tanto da psicologia quanto do serviço social, que denunciaram a discriminação.
Trajano adianta que o Movimento Gay de Minas encampará três ações como forma de repúdio ao episódio.
- A primeira delas é interpelar a FAMINAS, através da Lei 14.170, que é a lei de combate à homofobia do estado de Minas Gerais. Sendo uma personalidade jurídica, vamos questioná-la através dessa lei. A segunda vai ser uma denúncia junto ao MEC, porque essa postura é contrária às orientações do Plano Brasil sem Homofobia, do qual o MEC tem uma série de ações voltadas para o combate da homofobia. A terceira será um beijaço, no próximo dia 31, em frente à faculdade. Vamos levar um ônibus. Ainda não sabemos se vamos alugar um pequeno trio elétrico ou um carro de som, mas imagino umas 80 pessoas no beijaço. Já que não pode no cartaz, a gente vai ao vivo.
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