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By Ferramentas Blog

domingo, 28 de fevereiro de 2010

DROGAS E HIV - ÁLCOOL, DROGAS ILÍCITAS E ANTI-RETROVIRAIS



Vanja Maria Bessa Ferreira*
1.Meu paciente faz uso moderado de álcool. Como devo orientá-lo em
relação ao uso concomitante de álcool e medicamentos anti-retrovirais?
O álcool aumenta os níveis séricos do abacavir em 41%. Bebidas alcoólicas
também devem ser evitadas para aqueles pacientes que tomam o amprenavir em
solução oral. A princípio, não há diferença na atuação do álcool em pessoas
infectadas ou não pelo HIV. Um trabalho americano concluiu que não havia
associação entre o uso de álcool e o desenvolvimento da doença aids em
pacientes infectados pelo HIV.
O uso concomitante de bebidas alcoólicas com a didanosina potencializa a
toxicidade desta substância, aumentando o risco de desenvolvimento de
pancreatite nos pacientes que estiverem utilizando esta medicação. Além disto, é
importante lembrar que pacientes HIV+ fazem uso de medicações variadas e que
algumas associações destas medicações com o álcool produzem efeitos diversos,
entre os quais podemos citar os ansiolíticos, que potencializam o efeito da
embriaguez; e o metronidazol, cuja associação com o álcool pode causar uma
psicose tóxica aguda. Cabe ainda lembrar que, sob o efeito euforizante do álcool,
indivíduos soropositivos ou soronegativos podem se expor mais a práticas sexuais
menos seguras.
*Psiquiatra. Superintendência de Saúde Coletiva da Secretaria de Estado de
Saúde do Rio de Janeiro. Membro do Conselho Técnico-editorial do Fórum
Científico HIV/AIDS.
2.O uso da maconha é contra-indicado em pacientes infectados pelo HIV?
Não foi, ainda, encontrada nenhuma associação entre o uso de maconha e
a progressão da doença em pacientes HIV+ assintomáticos. Existem estudos
sobre os efeitos do delta9 tetrahidrocanabinol (THC) no sistema imunológico, mas
os resultados são inconclusivos. Recentemente, um estudo apresentou como
resultado que o uso de maconha estava associado a uma discreta redução dos
níveis de indinavir e de nelfinavir, sem nenhum efeito sobre a carga viral. No
Estado da Califórnia, USA, os médicos têm autorização legal para recomendar o
uso da maconha para pacientes HIV+ ou com aids que apresentem queixas de
náusea, anorexia ou perda de peso. Estudos americanos demonstram que o uso
de maconha é bastante acentuado em pacientes soropositivos que apresentam
perda de peso. Alguns pacientes relatam que se sentem menos ansiosos quando
usam maconha.
Não se deve esquecer que efeitos da maconha como a perturbação da
capacidade de calcular tempo e espaço e os distúrbios na memória e na atenção
podem levar a comportamentos de risco e a falhas na adesão ao tratamento, uma
vez que o paciente pode se descuidar dos horários dos medicamentos.
Cabe lembrar, ainda, dos efeitos do alcatrão nos pulmões. É
desaconselhável o uso de maconha em pacientes HIV+ que apresentem quadro
de infecção pulmonar.
O estímulo à prática de atividades físicas ou caminhadas para os pacientes
que não estão acamados pode ser um substituto eficaz para os efeitos ansiolíticos
da maconha.
3. De que forma as drogas psicotrópicas interagem com os anti-retrovirais?
Existe alguma relação entre o consumo dessas drogas e as mutações do
HIV?
Publicações sobre as interações dos anti-retrovirais com as drogas ilícitas
são escassas. Além disto, o que sabemos se refere ao metabolismo da forma pura
destas drogas no fígado. Cabe lembrar que as drogas compradas na rua
raramente são puras, sofrendo diversas misturas. Existe um caso fatal relatado de
interação entre ecstasy e Norvir, explicado através do aumento da concentração
de ecstasy na corrente sangüínea. O mesmo acontece com a anfetamina.
No caso da heroína, ao contrário das outras duas drogas, o nível de droga
no sangue diminui, quando utilizada concomitantemente com o Norvir. Com
relação aos outros inibidores da protease, as interações são teoricamente
possíveis, mas não comprovadas.
Sobre interações com os anti-retrovirais, nada foi encontrado com relação à
cocaína, ou o poppers. Alguns estudos têm demonstrado que a cocaína aumenta
a replicação do HIV.
Com relação às drogas endovenosas, pesquisadores espanhóis não
observaram mutações no vírus, mas perceberam que os pacientes usuários de
drogas injetáveis não apresentavam mutação em um receptor celular relacionado
à resistência ao HIV. Isto significa que as células ficam mais susceptíveis ao vírus,
podendo haver uma aceleração da progressão da doença em pacientes que usam
drogas endovenosas.
4. Meu paciente HIV+ relata uso crônico de cocaína inalada. Ele tem se
queixado de insônia, ansiedade e medo. Como ajudá-lo?
É recomendado o encaminhamento deste paciente para um psiquiatra que
possa atendê-lo com uma freqüência maior de consultas (3 vezes por semana). O
primeiro passo para um tratamento bem sucedido nos casos de dependência
química é o desejo do paciente em deixar de usar a droga. O segundo passo é a
formação de uma estreita relação terapeuta-paciente, através da qual o paciente
possa se sentir confiante e seguro e possa suportar o vazio da abstinência.
Alguns estudos demonstram que as terapias comportamentais apresentam
resultados eficazes no tratamento do uso abusivo de cocaína. Os pacientes
também costumam se beneficiar dos grupos de auto-ajuda para usuários de
drogas, do tipo narcóticos anônimos. Também poderão ser usados medicamentos
benzodiazepínicos, para reduzir a ansiedade e os efeitos psíquicos decorrentes da
síndrome de abstinência. No caso de síndrome de pânico desencadeada pelo uso
da droga, pode ser utilizado o clonazepam (Rivotril) 2mg, 1 comprimido ao dia,
inicialmente, aumentando-se a dose para 1 1/2 comprimido, após observação.
5. Como atender os pacientes soropositivos que são usuários de drogas
injetáveis?
Tratar pacientes HIV+ usuários de drogas é sempre muito estressante,
devido à gravidade e à complexidade das questões médicas e psicossociais,
associadas ao comportamento problemático destes pacientes. Usualmente, o
médico assistente não sente nenhuma empatia pelo paciente que usa drogas e
pode tender a tratá-lo com frieza, rispidez ou má vontade. Muitas vezes, isto
acontece porque o médico não aceita o comportamento anti-social do paciente ou
não acredita que poderá ajudá-lo. No entanto, existem estudos que demonstram
que os pacientes soropositivos usuários de drogas injetáveis podem se beneficiar
com um tratamento anti-retroviral adequado.
O médico deve referenciar o paciente para um serviço especializado para
dependentes químicos, nos lugares onde isto for possível. O encaminhamento
para um acompanhamento psiquiátrico, um suporte psicoterápico ou consulta com
assistente social, dependendo do caso e nos serviços onde houver esta
disponibilidade, pode ser extremamente benéfico para o tratamento do paciente.
O estabelecimento de uma relação de respeito mútuo, isenta de
julgamentos morais e com limites pré-determinados, pode proporcionar ao
paciente mais segurança e confiança e ao médico, menos frustração e impotência.
Algumas questões devem ser apontadas:
? ? São diversas as interações de medicamentos utilizados por pacientes
soropositivos e a metadona, que deve ser prescrita por profissionais
especializados;
? ? O uso de medicação psicotrópica deve ser bastante controlado, dado o
potencial de abuso destas drogas;
? ? O paciente não deve fazer uso da droga antes de vir à consulta ou quando
estiver internado, pois, desta forma, não se beneficiará das orientações
médicas;
? ? Deve-se sempre reforçar o aconselhamento quanto aos mecanismos de
transmissão e à adesão ao tratamento, uma vez que o uso de drogas ou álcool
diminui as inibições e altera a percepção de risco;
? ? A depressão está fortemente associada ao uso de drogas como os opiáceos, a
cocaína e o álcool;
? ? Deve-se pensar sempre no diagnóstico diferencial entre os sintomas causados
pelo abuso de drogas e (a) sintomas constitucionais causados pela infecção
pelo HIV ou pelas doenças oportunistas; (b) infecções pulmonares
relacionadas ao HIV; (c) demência pelo HIV ou infecções do sistema nervoso
central e (d) sintomas dermatológicos;
? ? Os usuários de drogas injetáveis soropositivos apresentam mais
freqüentemente infecções bacterianas, tuberculose, hepatite, câncer de pulmão
e outras doenças sexualmente transmissíveis;
? ? Em caso de mulheres soropositivas usuárias de drogas, fazer aconselhamento
sobre gestação, amamentação e transmissão vertical do HIV.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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BARTLETT, J.G. & GALLANT, J.E. 2001-2002 Medical management of HIV
infection. Johns Hopkins University, Baltimore. 2001.
DI FRANCO, M.J., SHEPPARD, H.W., HUNTER, D.J., TOSTESON, T.D.,
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SITES RECOMENDADOS:
MEDSCAPE - http://www.medscape.com
UCSF – Center for AIDS Prevention Studies - http://www.caps.ucsf.edu
THE BODY – http://www.thebody.com
Project inform – http://www.projinf.org/fs/drugin.htm

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